abril 14, 2022

O Trabalho Remoto como oportunidade para jovens em contexto de vulnerabilidade social

Através do projeto Isla Remota, eu e mais duas amigas fomos dar um workshop sobre Trabalho Remoto aos utentes duma Associação Social e Cultural na Gran Canaria.

O propósito deste projeto é fazer um encontro entre organizações sociais e trabalhadores remotos / nómadas digitais, como forma de intercâmbio cultural e profissional.
Nós escolhemos colaborar com a TribArte, mais especificamente no seu projeto DandoconlaTecla, que se centra na formação de jovens que estão fora do circuito formativo, com diferentes ferramentas pessoais e digitais, que lhes permitam reintegrar-se novamente e procurar emprego. A ideia é então conectar com trabalhadores remotos e nómadas digitais, abrindo o véu para novas possibilidades de emprego remoto.

O projeto Isla Remota encantou-me desde o início, pela sua missão, até porque duma forma geral, vê-se muita carência social e tecnológica nas ilhas. Uma das coisas que me vim apercebendo é que é comum os jovens e a população em geral não saber falar Inglês e isso é um factor extremamente limitante nos dias de hoje, especialmente com a elevada taxa de desemprego jovem que existe na Gran Canaria.


Os nossos objetivos

O nosso objetivo neste evento foi o de passar a ideia de que para se ter um trabalho remoto, pela internet, não é necessário ter uma formação especializada em informática, que existem muitas atividades que se podem fazer online. Ao mesmo tempo que fomos passando a nossa visão de vida, que é rica em experiências com pessoas e culturas e, ao mesmo tempo, muito leve em termos materiais.
Foi uma experiência de imenso valor para nós podermos conectar com os sonhos e ambições destes jovens, com o estilo de vida que procuram, com os seus desafios, e deixar ali um espaço em aberto para começar a desenhar este projeto de vida. O projeto de cada um.


Descrição da atividade

Descrevendo mais em pormenor a atividade, começámos com uma dinâmica que nos ajudou a mapear o lugar em que estes jovens se encontram em relação à profissão que querem ter no futuro, se já conhecem pessoas que estejam nessas profissões, que estilo de vida procuram, etc.

A importância das experiências de educação não formal: o voluntariado

Falamos na importância das experiências de educação formal, como os cursos e a universidade, que nos abrem imenso a mente, mas neste contexto sobretudo focamo-nos na importância das experiências não formais, como por exemplo o voluntariado, de experimentar executar as tarefas inerentes à profissão que queremos desempenhar, porque só experimentando é que realmente sabemos como é o dia-a-dia de cada profissão.

A importância de nos relacionarmos com pessoas que estão no lugar onde queremos chegar

Falamos ainda na importância das ligações, de falarmos com pessoas que têm experiências diferentes, que nos abrem a mente a novas realidades e perspetivas, e também da importância de nos entrusarmos nos meios onde queremos viver e participar. A melhor forma de nos tornarmos em algo que queremos é relacionarmo-nos com pessoas que são o que queremos ser. Muito mais facilmente iremos aprender com ela e tornarmo-nos como elas.

Mapa dos sonhos e das dificuldades

Falamos muito de paixões, de vocações e profissões de sonho, mas também de dificuldades. Mapeamos a situação atual deste grupo e percebemos como o dinheiro é um entrave tão comum entre todos. E percebemos que existem duas opções: uma é pensar em formas de ganhar mais, outra é pensar em formas de gastar menos, renunciando muitas vezes ao consumismo que tantas vezes nos assalta.
E questionámo-nos, ainda, sobre quanto dinheiro precisamos para concretizarmos os nossos sonhos. Será que o dinheiro é mesmo o maior limitador da nossa ação?

O Projeto de Vida

Deste mapeamento resultou um trabalho interessante que levaram para casa, com a sugestão agora de se juntarem novamente e se entreajudarem, para fazerem um projeto de vida. Pensando no objetivo final e nos pequenos passos a concretizar até lá.



Conclusão da experiência

Eu confesso que adorei a experiência! Como sabem, no passado trabalhei durante vários anos com jovens em situação de vulnerabilidade social e voltar a fazê-lo compilando agora outras experiências que fui tendo ao longo dos anos é maravilhoso! É como se honrasse todo o caminho para trás e o integrasse numa só Raquel 🦋

Isto faz-me lembrar que muitas vezes colocamos demasiada pressão nos cursos e na profissão que queremos seguir, como se tivesse que ser para a vida toda, e esta etapa é apenas o início duma jornada de evolução a que nos propomos.

Para além disso, reunir pessoas com um objetivo em comum e trabalhar em grupo faz-me sentir como um peixinho na água. Adoro as sinergias que se criam quando trabalhamos em grupo, quando partilhamos experiências a partir da voz do nosso coração! A tendência para o individualismo e para a competição tem-nos dificultado tantas vezes a vida e nestes momentos percebo o poder de um grupo e a oportunidade que nos oferece de crescermos e irmos muito mais longe, juntos!

Grata à TribArte, Isla Remota e Talleres Palermo, às minhas colegas Sara Silva e Melody por este momento de crescimento coletivo 🙏

Lê o feedback da TribArte sobre esta palestra.



Lista de recursos

No final facultamos uma lista de recursos online, desde artigos com exemplos de profissões remotas que se podem ter, a sites onde podem fazer cursos gratuitos online, e onde se podem encontrar oportunidades de trabalho remoto. Deixo-te aqui alguns exemplos desses recursos:




Exemplos de profissões que podem ser remotas

Vídeo da Remote Portugal: O que fazem os nómadas digitais?

Nomadismo Digital: Exemplos de atividades 


Lista de websites onde se podem encontrar oportunidades de trabalho remoto


https://www.upwork.com/

Recomendo o artigo As 5 únicas formas de ganhar dinheiro online dos TravelB4Settle, assim como o trabalho desenvolvido por eles nesta área.


Comunidade de Trabalho Remoto e Nomadismo Digital em Portugal

Remote Portugal




Podes ler mais sobre Nomadismo Digital nas stories do meu Instagram e no meu blogue, seguindo a etiqueta Como é ser Nómada.



Beijinhos e abraços!

Encontramo-nos na próxima história de nomadismo digital 😉

Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter

abril 06, 2022

Camino de Santiago de Gran Canaria, 3 etapas

Partimos para mais uma aventura: Caminho de Santiago da Gran Canaria 👣
O Caminho de Santiago da Gran Canaria é uma das rotas pedestres mais bonitas e mais duras da Gran Canaria.
É um trilho de 66km em montanha e um desnível total de 2.750m. Atravessa a ilha de sul a norte, de Maspalomas a Gáldar, a primeira capital de Gran Canaria, onde está a Igreja Matriz de Santiago de Los Caballeros, a única sede Jacobea localizada fora do continente europeu.
Esta rota é um caminho entre vulcões, que atravessa um contraste de paisagens. Através deste caminho, temos a oportunidade de descobrir a ilha duma forma muito autêntica, e de nos envolvermos com a sua fauna e flora. É uma verdadeira viagem ao coração da ilha!

Fomos 5 amigas, a Sara vocês já conhecem, é a minha companheira de casa na Gran Canaria. A Mari é local aqui da ilha, a Melody é Alemã e a Stefy é Eslovaca. Ambas estão por cá a passar o inverno, enquanto trabalham remotamente, pela internet.

Podes ver mais fotografias e acompanhar a viagem pelos nossos stories do Instagram.



Preparação da viagem

Para nos preparar-nos para a viagem, pesquisamos alguns sites na internet, combinamos fazer algumas caminhadas de preparação juntas e discutimos o que levar na mochila.

O que levar na mochila

Se quiseres saber o que costumo levar na mochila para o Caminho de Santiago, recomendo-te leres o meu artigo: O meu Caminho a Santiago de Compostela e encontrarás mais informação sobre como te preparares para o Caminho.
Para este caminho especificamente, eu diria que um dos itens imprescindíveis a trazer é um casaco impermeável e corta-vento, com carapuço. Isto porque atravessamos zonas com temperaturas e condições atmosféricas muito diversas e, algumas delas, com muita exposição ao vento.

Onde dormir

Ao contrário de outros Caminhos de Santiago, na Gran Canaria não existe uma rede de hostels, ou de infraestruturas para o peregrino, o que complica um pouco mais o planeamento e encarece a estadia, porque temos que dormir em casas rurais.

Em Tunte dormimos no Rural Suite Santiago de Tunte, um apartamento para 7 pessoas com cozinha, que recomendamos muito.
A noite da 2ª para a 3ª etapa foi passada em Las Palmas, porque por motivos de trabalho não pudemos fazer os 3 dias seguidos. Por isso no fim de semana seguinte voltamos ao ponto de início da 3ª etapa, e começamos a caminhar daí.

Links de pesquisa úteis

Para me ajudar no planeamento da viagem, usei estes dois sites:
Local Guide Gran Canaria
Senderismo Gran Canaria



O nosso Caminho de Santiago, em 3 etapas

Fizemos o Caminho de Santiago no mês de Março, em 3 etapas:

1. Faro de Maspalomas - Tunte 28km
1.200m+ 340m-; 9h de caminhada

No primeiro dia apanhamos o autocarro de Las Palmas às 8:15 da manhã, em direção a Maspalomas.
Começamos no sul da ilha, com uma paisagem muito árida e cálida. A etapa mais longa e mais plana de todas. A menos bonita, na minha opinião, mas que foi importante para ver os contrastes e para apreciar muito mais as paisagens seguintes.

O caminho está todo muito bem sinalizado, à exceção dos primeiros 5km que se fazem por asfalto, dentro da cidade de Maspalomas. Quando saímos da cidade e entramos no barranco é que começou a haver sinalização e o caminho começou a ficar um pouco mais interessante.
Embora tenha algumas subidas, esta etapa é mais difícil pelo calor do que pela inclinação. Há muito sol, o caminho é maioritariamente em terra, com algum pó e a paisagem é muito desértica, por isso aconselha-se a levar roupa clara, chapéu, protetor solar, 2 litros de água e comida, até porque o primeiro ponto onde há água e comida à venda é em Fataga, a 22km de Maspalomas.




2. Tunte - Cruz de Tejeda 16km
1.050m+ 460m-; 7h30 de caminhada

O segundo dia começou em Tunte, uma vila muito local, onde jantamos e pernoitamos, e dali começamos logo a subir uma calçada antiga, tão característica dos Caminhos de Santiago, com vistas espetaculares! Os primeiros quilómetros foram sempre em subida íngreme, até ao topo das montanhas (+1.050m), mas com umas vistas tão bonitas, que não era penoso parar para respirar e apreciar a vista.
Por causa do nível de esforço e porque esta parte do caminho é realmente inspiradora, fomos a caminhar de forma muito individual, cada uma no seu silêncio e processo de interiorização. Foi engraçado como aconteceu tão naturalmente! Por um lado, não havia fôlego para conversar, e por outro aquela parte do caminho convidava mesmo ao retiro. A minha preferida, sem dúvida!



A Stefy não resiste comprar torrões canários, mas está a rir-se, porque sabe que lhe vai pesar mais um bocadito na mochila 😅


3. Cruz de Tejeda - Gáldar 21km
450m+ 1.800m-; 7h de caminhada

O terceiro dia começou com uma subida de 200m+ por 2km, mas depois foi praticamente sempre a descer, tendo sido um exercício mais exigente para os joelhos e para os gémeos, do que cardio.
Teve paisagens fantásticas do topo, com muito verde, mas no final já nos doíam as pontas dos dedos dos pés, porque estávamos sempre a descer. Houve uma parte da descida que foi mais exigente, de alguns metros, porque o piso resvalava um pouco, mas depois vimos um outro peregrino que foi por um caminho ao lado que parecia bem mais fácil. Da próxima vez já sabemos!

Apesar de pensarmos que seria a etapa mais fácil, acabou por ser a mais difícil para todas, porque apanhamos uma tempestade com chuva e ventos de 80km/h! E como estávamos mesmo no topo das montanhas quando aconteceu a tempestade, quase voamos! 😅
Houve um momento em que pensamos mesmo em abortar missão e regressarmos de autocarro, mas decidimos insistir novamente e caminhar mais um pouco até à próxima vila e nessa altura, meio em jeito de brincadeira, meio a sério, pedimos a Santiago que nos desse um sinal. Se fosse para continuar traria sol, se fosse para virmos embora traria tempestade. E uns segundos depois veio sol e chuva ao mesmo tempo, olhamos para o céu e parecia que as nuvens se estavam a dissipar um pouco com o vento e pensamos: "bem, parece que isto é um sinal de que as coisas vão melhorar". E continuamos a caminhar até ao nosso destino final, a Gáldar.




Conclusão da experiência:

O Caminho é realmente uma boa metáfora da vida!
Às vezes estamos quase a desesperar, mas é bom lembrar que tudo passa e que depois da tempestade vem sempre a bonança, como diz o ditado.
Às vezes precisamos de nos entregarmos à experiência, de confiarmos e pensar que mesmo que aquele não seja o caminho mais fácil, é o nosso caminho. E que mesmo que estejamos a sofrer e que não faça sentido naquele momento, no final irá fazer tudo sentido e irá valer muito a pena!

Gostei muito e quero repetir, pelas paisagens, pelo caminho em si, pela experiência de viver o Caminho com outras pessoas!
Foi muito interessante caminhar com um grupo de mulheres tão maduras! Todas nós já vivemos momentos de transição na nossa vida. Conversamos muito sobre as nossas mudanças, sobre a jornada de cada uma em relação àquilo que para si é o propósito de vida e, sobretudo, divertimo-nos muito! 
Mesmo depois de uns bons quilómetros nos pés, ainda tínhamos fôlego para brincarmos e até para dançarmos 😄💃


E tu, gostavas de fazer este Caminho?

Envia-me um email para info@overtrail.com
e organizamos um grupo para vivermos esta aventura juntos! 
Anda daí!


Beijinhos e boas viagens!

Encontramo-nos na próxima história de caminhada 😉

Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
Raquel Ribeiro. Com tecnologia do Blogger.