novembro 24, 2016

SIRCLe, uma viagem transformadora

Após 5 dias de retiro em Dornes, no Centro de Portugal, onde iniciei uma jornada interior, prossegui para uma segunda jornada: uma semana de grande transformação pessoal e comunitária.

O SIRCLe é um curso de empreendedorismo (r)evolucionário e inovação social para comunidades resilientes, financiado pela UE no âmbito do Programa ERASMUS+. É um programa desenhado para criar um currículo inovador, que integra ferramentas e métodos para a cidadania ativa e empreendedorismo social, com conhecimento científico e experiência de diferentes empreendedores, bem como de movimentos de base já estabelecidos.
Foi realizado nas instalações da Biovilla, em Palmela, e teve uma duração de 5 intensivos dias, entre 31/10 e 04/11/2016.

Este curso foca-se na aprendizagem de metodologias e ferramentas de inovação social, que podem ser utilizadas em cada uma das etapas da conceção / vivência de um projeto. A ideia é combinar resiliência e sustentabilidade financeira, com a paixão pelo planeta Terra. Fundamentalmente é isto o que nos une...
As ferramentas e metodologias abordadas foram, nomeadamente:
- Tecnologia World Cafe
- Tecnologia Open Space
- Dragon Dreaming
- Inquérito apreciativo
- 5 Dimensões da sustentabilidade
- Permacultura
- Sociocracia 
- Way of Council
- Cosmic Date
- DYADE
- Business Model Canvas 


A formação percorreu as mesmas etapas do ciclo de vida de um projeto. São desvendados padrões, e que podem ser adaptados a qualquer área e projeto. Podem até mesmo ser adaptados à escala do ciclo de vida de um ser humano, ou até de um dia das nossas vidas...
O interessante é a ligação deste processo com a vida...

E estas etapas são:

1. Responder ao chamamento
Quando nos propomos a criar algo, existe um chamamento para mudar. Uma energia que nos impele à ação. Uma vontade de servir o mundo e materializar.
Esta paixão, este fogo servirá de referência para a motivação ao longo de todo o processo, por isso tem que ser mesmo forte. Tem que ser aquele sonho que, os anos passam, mas ele continua ali à espera de emergir. Não podemos ter muitas dúvidas, porque vai fazer suor, vais ser difícil, por isso só vamos conseguir se tivermos mesmo determinação.
Que dádiva tens para oferecer?
Nesta fase fizemos alguns exercícios de promoção ao alinhamento interno, e um exercício de meditação criativa, no qual nos víamos a chegar a casa e a viver um dia do nosso projeto.

2. Ultrapassar fronteiras – Desenhar o Mapa
Começamos a fazer um levantamento do que existe no terreno, um mapeamento do que eu sou, que dádiva tenho para oferecer à comunidade onde vivo. 
Uma ideia que achei interessante foi a forma como nos pomos ao serviço da comunidade / mundo. Em vez de começarmos pelos problemas no mundo a resolver, começamos por uma busca interna, daquilo que temos para dar, para depois alocar essa dádiva à promoção de um bem-estar comum. Partindo assim do indivíduo para fora. E é difícil, porque parte de um trabalho de autoconhecimento e autoconfiança enorme! Exige ter muita maturidade e sobretudo SER antes de FAZER e nós nunca fomos educados para este exercício...
Além disso, esta questão pode gerar imenso desconforto, porque a maior parte de nós não conhece o seu propósito de vida e por isso mesmo, muitas vezes não passa desta fase...

3. Fazer círculos – Abraçar a diversidade
Começar a mapear e ligar círculos de interesses, distribuir.

4. Ousar agir – Ir para o mundo e explorar o território
Convido a comunidade a começar a pôr o projeto em ação.
A ação traz a experiência. E começo a explorar os meus medos, etc.
Nesta fase é importante a construção de um protótipo, que nos irá servir para testar a nossa ideia, sem despendermos tanta energia.

5. Enfrentar a escuridão – Integrar as sombras
Após experiência de algumas dificuldades e falhanços, começamos a duvidar sobre o sucesso do projeto. Existem imensas razões para não irmos ao encontro dos nossos sonhos. Muitas delas são desculpas, que emergem dos nossos medos.
A expansão e evolução exige irmos ao nosso lado sombra. É hora de recolher e virar para dentro.
Como manter a resiliência individual e coletiva? 
Existem ferramentas sociais que ajudam a criar resiliência no indivíduo e nos grupos. É importante deixarmos de ser partes e passarmos a ser um todo.
Foi-nos facilitada uma "Dark Night", um poderoso exercício, no qual enfrentámos os nossos maiores medos e desculpas, num contexto seguro.

6. Abertura ao desconhecido – Dar origem ao novo
Quando decidimos enfrentar os nossos medos, estamos preparados para um movimento de expansão e abertura.
Pode ser nesta fase que lançamos o website do projeto, por exemplo.

7. Amadurecimento da caminhada – Colher frutos
O nosso projeto torna-se mais claro e sólido e começa a ter resultados.
Começa também a ser uma inspiração para outras pessoas.

8. Partilha da dádiva – Celebrar a beleza do nosso projeto
Quando já estamos prontos para fazer uma apresentação pública do nosso projeto e a partilhar a nossa experiência, através de palestras, workshops, etc.
Foi-nos facilitada uma Pitch Night, uma noite de apresentação pública dos nossos 14 projetos em 1 hora, na Biovilla. Um momento de grande celebração, em que todos estivemos de parabéns!

9. Chegar a casa
Recolhimento e silenciar. 
Integrar toda a aprendizagem feita, para voltar a sonhar e criar novamente.


Ideias e bloqueios que levava para o SIRCLe
Quando entrei no SIRCLe ia com uma ideia e, quando me vi na meditação criativa percebi que tinha que pensar realmente no meu sonho e não na adaptação que estava a fazer, por circunstâncias da realidade. Se é para sonhar, é para sonhar a sério! A motivação abriu portas e o processo de mapear o sonho tornou-se muito mais simples e prazeroso.
É interessante como aprendemos a sonhar com aquilo que achamos que podemos, com medo de ferir as nossas expectativas e as dos outros, mas depois vivemos uma vida "a meio" daquilo que efetivamente podemos. Eu estava a ficar bloqueada pelos recursos disponíveis que tenho. É preciso às vezes afastar aquilo que temos disponível. Os recursos servem os nossos sonhos e não o contrário. Tal como o dinheiro! Mas o desapego é difícil... Principalmente o desapego do caminho mais fácil...
Foi-me aconselhado que não me preocupasse com o protótipo, para ir mapeando os meus dons, dádivas, etc. Deixar fluir e ir vendo que respostas vou encontrando. E isso foi libertador! Permitiu-me sonhar realmente, e por isso desbloquear...
Senti perfeitamente o meu entusiasmo a crescer, porque me permiti sonhar, sem pensar nos constrangimentos. E o sonho ganhou nova força e contornos!

As desculpas que nos impedem de agir...
Uma das desculpas é não termos o que precisamos para começar. Ainda não estamos prontos. Mas a verdade é que o que precisamos vai aparecendo no caminho à medida que o vamos percorrendo. 
A loja das ferramentas não está no início da caminhada. É como um jogo... À medida que vamos passando níveis, vão-nos sendo fornecidas novas ferramentas, que nos irão servir no momento certo. A vida é muito eficiente e por isso não nos dá ferramentas que não iremos precisar. O que precisamos e quem precisamos irá aparecer no caminho. Só temos que o começar a percorrer...

A entrega ao desconhecido e ao coletivo, necessárias à expansão
A entrega ao desconhecido é um enorme desafio, mas parece ser um obstáculo que temos sempre que ultrapassar se queremos crescer como pessoas...
Esta formação despoletou-me imensos medos que estavam cá dentro guardadinhos, mas também me deu respostas. A expansão ou evolução exige irmos ao nosso lado sombra. Para ganharmos um passo temos que perder algo. Quanto mais não sejam as nossas amarras, a nossa zona de conforto. E uma das formas de ir buscar essa resiliência é exatamente procura-la na consciência coletiva. Percebemos que o meu medo não é meu, é nosso. É algo que temos vindo a perder ao longo das últimas gerações e se calhar está na hora de resgatarmos, se queremos evoluir.
Talvez seja o momento de começar a falar em sustentabilidade do SER, para além da financeira, da social ou ambiental...


A abundância
E terminou esta grande viagem transformadora que foi o SIRCLe.
A grande lição na reta final foi a da abundância: de recursos, de sonhos, mas principalmente de amor.
Pertencemos agora a mais uma comunidade de sonhos... Chamamos-lhe os "empreendedores evolucionários anónimos" ;)
Quanto mais caminho mais pessoas maravilhosas encontro. Pessoas fantásticas a fazerem pequenas mudanças no mundo. Simplesmente porque elas procuram fazer essa mesma mudança de dentro para fora. E essa é a certeza, para mim, de que estou no caminho certo!

Quero contribuir para o mundo de uma forma holística e crescer. Crescer de uma forma holística também, em várias dimensões. E quero ligar-me cada vez mais a mim, ao lugar onde me encontro serena e em paz.

A celebração, como forma de integração de experiências
E este fechar de um dia, este recolher, este momento de celebrar, cada vez é mais importante para mim. Preciso mesmo desse tempo de retiro no final de cada experiência, no final de cada dia, para estar comigo e integrar. A escrita, isto que estou a fazer agora, é uma das minhas formas de integrar, celebrar e fechar os ciclos de aprendizagem.
Espero que ela possa vir a ser um impulso para todos, para uma nova fase: O SONHO!
Afinal, dizem que é ele que comanda a vida... :)

novembro 23, 2016

Cheguei a casa, mas já não sou a mesma... E agora?


Quem viaja, principalmente quem viaja sozinho, conhece aquele momento turbulento do regresso a casa.
Aquilo que aprendemos e vivemos parece-nos ter mudado tanto e quando regressamos a casa choca-nos o facto de estar tudo igual. Nós já não somos os mesmos e parece que à nossa volta tudo parou no tempo. Quem não conhece esta sensação?
E ponho-me a pensar... Será este choque com os outros que nos rodeiam, ou será sobretudo connosco mesmos? Com toda a estrutura que temos montada "em casa"? 
Este pode ser simplesmente o momento de parar e integrar toda a informação, vivências e experiências aprendidas.
A mudança é sempre difícil, mas com a nossa própria evolução vamos precisando de ir fazendo ajustes consecutivamente. E quando chegamos de uma viagem - durante a qual descobrimos que somos muito mais do que temos sido até então, que somos livres e que há imenso mundo para explorar - chegamos a casa e percebemos que é hora de lidar com toda a nossa história, medos, amarras, e integrar estas novas vivências no nosso percurso de vida. Umas vezes de uma forma mais harmoniosa, outras vezes com cortes radicais.

Viajar é como ler. É uma experiência que pode ser altamente transformadora.

Tudo é do tamanho que estamos prontos para lhe dar...

Birmânia 2016
Raquel Ribeiro. Com tecnologia do Blogger.